terça-feira, 25 de outubro de 2011

Retalhos Enterrados [ Série "Títulos" ]

Em certos momentos é tão tentador voltar à infância a ficar por lá. Lembrar que não se tinha preocupações e que a sua maior dificuldade era conseguir chegar ao último galho do pé de jabuticaba que ficava no jardim. “Olhe pra trás, porém só se for necessário” – conselho que mamãe sempre me dava quando tinha que enfrentar sozinha o escuro. O desejo que ansiava era comer o doce de banana feito por sua mãe. Era sábado e... a tristeza do dia era não poder estar do lado de fora, pois chovia forte e parecia que não iria parar tão cedo. A bronca mais temida era quando não se aguentava e ria durante a missa. Eu costumava usar Ray Ban. Não, não era meu, era minha diversão preferida pegar os óculos daquele tio mais chato e metido e deixar ele louco procurando. “Toc-Toc”. Dessa vez ele chegou rápido e pela batida na porta parecia furioso. Essa era a situação mais tensa. Hora de esconder bem escondido os óculos para evitar uma surra. “Minha princesinha de botinas prometeu não fazer mais isso, não é?” – dizia meu pai tentando acalmar as coisas. E eu, com uma expressão angelical, balançava a cabeça concordando. Minha cor preferida era cor-de-rosa, como a maioria das meninas da minha idade. Mas diferente delas, associava mais a flor, então a minha rosa tinha várias cores. 
De acordo com o ciclo, não podemos ficar se escondendo na infância pra sempre. Um dia a gente tem que crescer e as todas as preocupações, dificuldades, desejos, tristezas, broncas, diversões, situações tensas, preferências, perigos,... mudam quase que bruscamente.
Eu poderia ficar horas falando do meu passado pra não lembrar que o amor é mesmo assim, acontece e desacontece como num passe de mágica. Não queria falar dos invernos dos meus dias, mas acaba sendo inevitável. Faz parte de mim, não posso contar uma estória pela metade. É como se ler um livro com páginas arrancadas. Da mesma forma que não se termina sem um fim. Por isso algo me diz que ainda há de existir amor. Pode ser uma parcela desejo meu, claro. Mas infelizmente você se foi... e o nosso fim vai ficar assim mesmo? Eu não aceito! Um amor que foi meu, só meu. Que tinha de tudo, renúncias e loucuras. E hoje... está feito pó. Tudo que restou são apenas retalhos de bons e doces momentos. Não acredito – me recuso a acreditar – que tudo aconteceu por conta de denúncias anônimas. Você não pode ser tão cego! A minha raiva foi tão grande que não consegui nem olhar em seus olhos. Dali em diante, era como se fossem passos descalços dados no escuro. Sem rumo ou qualquer pretensão continuei caminhando. E durante essa caminhada acabei me entregando a uma noite de luxúria ou duas. Capítulo que arranquei do meu livro para que ninguém soubesse. Precisava urgentemente de goles de lucidez, mas só sentia o gosto das lágrimas mortas. Refazia-me e começava a arrumar minhas vitrines individuais. Quem sabe assim não poderia mostrá-la a alguém que realmente quisesse entrar e investir realmente. Uma espera por ninguém, por si somente. Meu verdadeiro delírio, o delírio de existir. Era só o que me restava então. Equalize as emoções, meu bem. É hora de voltar!
Nunca gostei das coincidências. Sempre ousadas e, às vezes, cruéis. Maldito acaso que nunca mais fez a gente se encontrar. Só queria conversar... podia ser até por telefone ou naquela esquina. Podia ser de longe mesmo, num dia comum, você fumando da janela de uma casa qualquer. Mas não. O futuro do pretérito deu lugar ao passado desbotado. Você pode duvidar... But... I don’t care.


Criado carinhosamente a partir dos títulos de Loara Gonçalves 
http://vozessurdas.blogspot.com

Um comentário:

  1. Achei a Idéia MTO genial ! parabéns , hahaha mas meio que me desconectei na parte em que todos precisamos crescer e deixar a infancia :/ ... fiquei deprê... enfim parabéns daph ! :P

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