"Como a abelha trabalha na escuridão, o
pensamento trabalha no silêncio e a virtude no segredo."
Mark Twain
O silêncio me acompanha, pulsando e me envolvendo de dentro
pra fora. Quanto maior o silêncio, maior o barulho aqui dentro. Quanto maior o
barulho, mais ele escorre pelos olhos. Dependendo do volume, o silêncio te
aperta a ponto de te deixar sem ar. Algo se move nos corredores da minha alma.
Não é sempre, mas quando resolve bagunçar tudo acaba me trazendo tudo que já
havia colocado no seu devido lugar. Me bagunça, me tira o foco, como se naquele
minuto eu fosse para outro mundo, da onde não quero sair. O problema é não
poder ficar lá, de verdade. Às vezes me pego correndo, com passos longos e
pesados, tentando chegar nesse lugar, mas encontro os degraus vazios, silêncio
e pessoas que nunca vi. O verde já está desbotado e o vento frio, nem os
passarinhos cantam tanto. A água continua caindo como um calmante direto na
veia. O sorriso da imagem me faz sorrir também. E vou continuar sorrindo, a
cada esquina, a cada dia, a cada lembrança, a cada reencontro − mesmo, às
vezes, acordando no meio dele.