quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Hoje sonhei que fazíamos qualquer coisa do dia a dia na mais doce naturalidade como se nada tivesse acontecido. Isso me trouxe a paz que eu precisava pra parar de me culpar.
Pena que era apenas um sonho... mais um...

Ao despertar, a memória - normalmente falha - me lembra que já era tarde, já tinha estragado tudo. Criei um abismo entre nós totalmente desnecessário, por pura confusão. 
Hoje só desejo que tudo volte a ser como antes, assim como no meu sonho. 
 

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Passou do Ponto


Aconteceu uma vez. Não, não faz sentido. Até que... novamente. Coincidência, certamente. Um dia e outro mais pra frente mostravam com insistência. Não! Não tem explicação!
Não consegui mais. Mas fica comigo, é só meu, de mais ninguém. Sem sucesso, reparti, com todos os receios e consequências. Ajudaram a cuidar e, muitas vezes, fortaleciam. Eu não queria, nunca quis. Insistiam pra deixar andar sozinho. Novamente não quis. A dúvida nunca existiu, com exceção em como achar a saída. Com o passar das semanas, meses, deixava escapar algo – algumas vezes por querer. Dia perdido entre os meses que me puxava de volta. E assim que ele passava tudo voltava, junto com o fermento inocente e amigável. E assim ficou em 'banho maria' por um tempo. A confiança foi depositada na panela, com a condição de nunca passar do ponto. Os igredientes selecionados com todo cuidado. O fogo alto falhou uma vez ou duas, mas não notou, pois estava tão certa e concentrada que... acabou transbordando. E nada que fizesse colocaria tudo de volta na panela. Já estava tudo espalhado pela cozinha. Ao olhar em volta não conseguia entender muito bem o que tinha acontecido, mas estava visivelmente orgulhosa pelo prato – mesmo não podendo degustá-lo. Mas minutos depois fitou a mão que estava próxima ao fogão e que nada fez além de assistir. Como um filme, foram passando cenas, conselhos e diálogos que resultaram nessa cozinha imunda. Vergonhosamente, lembrando de todo entusiasmo ao colocar a panela em cima do fogão – enquanto todos se divertiam só esperando o grand finale – o único sentimento ali era pena. E isso, confesso, é um dos piores sentimentos que se pode ter, principalmente quando se trata de si mesmo.
 Na teoria é sempre perfeito, mas na prática é preferível deixar os igredientes mofando dentro do armário a ver eles sendo jogados fora. Como que eu, tão pé no chão, deixei isso acontecer? A única conclusão que consigo chegar é que, além de nunca mais deixar de lado minha intuição na hora de temperar, devo voltar a cozinhar sozinha – sem “ajuda” ou palpites de ninguém. Agora a cozinha precisa dos meus cuidados, com licença.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Grãos de Passado


  Acordei sorrindo, absorvendo a maresia por todos os poros. Tentando ser o mais silenciosa possível pra não te acordar. Fui  até a janela admirar o mar que, nos últimos dias, tem sido o cenário dos momentos mais doces que já tive. Nada grandioso, somente coisas simples que só você sabe dar o tempero necessário tornando-as eternas na memória. Ao voltar ao presente - quase que no susto - me apressei até a cozinha para preparar um capuccino quentinho, sem açúcar, do jeito que gosta. Te despertar acariciando seu rosto e recebendo um sorriso sereno em troca é a sinopse de mais um dia perfeito.
  Lado a lado, de frente para o mar, comentamos sobre as conchas mais bonitas que achamos no caminho. A minha preferida é a que tem forma de coração. A primeira que achei e escondi para te entregar por último.
  Os grãos de areia se misturam com as pintas que mapeiam seu corpo, delimitando o território que tomou conta do meu mapa enquanto estava distraída. O beijo salgado e prolongado quase que em câmera lenta. Descobri o aroma sublime resultante da junção do mar com seus cabelos que deixaria qualquer Chanel Nº 5 pra trás.
  Acordei pra ser feliz mais um pouco. Para a minha surpresa você já tinha se levantado da cama. Te chamo sorridente pelos cômodos, esperando a quaquer momento a surpresa. E a encontrei. O sorriso ansioso se transforma em lábios trêmulos. Um pedaço de papel rabiscado com pressa junto com meu último presente: "Nossas lembranças irão durar uma vida inteira. Guarde as melhores com você, esqueça as outras". Não precisava de nenhuma palavra a mais pra entender que seu passado veio te buscar. Temia que isso viesse a acontecer mais cedo ou mais tarde, mas ignorei essa possibilidade por simples medo. E o que haviamos vivido acabou me distraindo tanto que esqueci que isso poderia acontecer.
  Foi o que guardei então, fora o próprio amor. A música que marcou, o silêncio entre as palavras, o meu silêncio. Farelos de momentos, palavras não ditas, um adeus negado, mágoas. Apanhei pedaço por pedaço do (nosso) passado espalhado pelo chão e tentei transformar num futuro que fosse no mínimo agradável.
  O passado é o mais presente em nosso presente, que inevitavelmente fica de presente. Você pode guardá-lo debaixo do travesseiro ou no fundo do armário, dentro de uma caixa lacrada, a qual não pretende abrir mais.
  Não podia - nem tinha o direito - de impedir você de ir atrás do que faz seu coração acelerar a ponto de perder o ar. Só não queria que levasse o meu junto sabe-se lá pra onde. Quando tiver um tempo - entre uma alegria e outra - devolva ele na caixa de correio. Só caso eu venha precisar dele novamente por conta de um susto ou um pesadelo qualquer. E sem perceber é onde eu estava: em um pesadelo. Aquilo que sempre rondava meus medos resolve acabar com o sonho que estava sendo saboreado com todos os cinco sentidos.
  A onda inesperadamente forte que derruba o castelo de areia, construido pouco a pouco, com as medidas certas e a areia selecionada. A onda fria que te desperta do sono com uma brutalidade quase cruel. Estirada no chão como se tivesse desabado, relembra cada minuto vivido ali. E sobre a areia permanece com olhar fixo, onde as lágrimas e o mar viram um só. Quase coberta totalmente pela água, sem qualquer reação, entendeu que nem tudo que acaba tem  um fim.