sábado, 2 de abril de 2016

Aqui jaz...

"Confesso, matei alguns sentimentos por aí… Mas foi em legítima defesa!"


    Vai ver eu nunca estive inteira mesmo. Vai ver eu fui tão estraçalhada que nem minha boa vontade e os farrapos do meu coração foram suficientes. Taí, hoje não sou suficiente pra nada nem ninguém, nem pra mim mesma. Não confio em ninguém, pois sei onde isso vai dar: Em suas palavras sendo usadas contra você mesmo junto com tudo de pior que podiam vir de alguém que ama. O mal estar é recíproco, porém, de natureza diferente. Cobranças e julgamentos banhados à crueldade, pois quanto mais machucar melhor. É como cobrar de um acidentado que perder as pernas a promessa de anos atrás de correr no parque com você.
    Pra que se esticar tanto? Pra que insistir tanto tempo e esforço no amor? Pra que forçar algo que só machuca e decepciona mais os dois lados? Porque é da inevitável e desumana natureza humana. Se tivessem se conformado e acabado lá atrás, no primeiro ponto final, este não teria virado a primeira vírgula de muitas que viriam – pontudas e cortantes. Amor? Muito fácil de confundir com outras coisas, até com amor por si mesmo e só. Quem dera conseguir desamassar o coração como se desamassa um papel e poder dar-lhe a quem merece. Enquanto você perde seu tempo tentando me machucar mais, eu vou tentando me curar de você.
    Contrariando os poetas, o amor acaba sim. Não querendo parecer radical ou contra conto de fadas, mas essa é uma verdade que a maioria ignora. Difícil de aceitar, ainda mais se espera isso por tanto tempo. Difícil organizar as gavetas, se acostumar com o silêncio e com todo o resto que não se tem mais. Calma, isso não é de todo ruim, não. Se não acabasse as pessoas não teriam outras chances de serem felizes, de acertar o que erraram no passado. Não tem como concertar o que já foi, muito menos viver em paz com o passado no bolso. Alguns amores não acabam e sim, se transformam em amizade, amor fraternal e até amor incondicional. Fora que as pessoas mudam, assim como seus planos, desejos e gostos.
    Então, o que posso te desejar é sorte. Sorte de encontrar alguém inteiro como você, que queira o mesmo que você, no mesmo momento que você. Sem a menor possibilidade desse alguém te destruir em milhões de pedaços pra depois voltar mudado e te julgar por você ter se tornado aquilo que ele mesmo criou. Fazendo-te se sentir a pior pessoa do mundo, te fazer acreditar que a culpada é você por não saber amar, por não fazer o que ele espera que faça, ... por você ter morrido tentando amar da forma mais pura e inocente que jamais amou. De fato, a culpa é minha por ter amado demais e me jogado de cima do prédio só pra viver tudo aquilo que pulsava dentro de mim, mesmo sabendo que não viveria muito. Suicídio? Não.... eu só queria amar até morrer de amor, e assim foi.


quinta-feira, 17 de março de 2016

"Daqui a 50 anos eu ainda vou saber seu nome e vou me lembrar de todas as vezes que você me fez sorrir. Na minha memória, tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos."
Caio Fernando Abreu


      Ela caminhava no lugar de sempre e sem pretensão alguma quando tropeçou naquela pedra de formato singular. Guardou-a no bolso e seguiu em frente. Cuidava dela com tanto carinho que os outros não entendiam. Intrigou-se com o seu brilho, lapidou e encontrou a parte mais bonita da pedra. Mas ela se apaixonou por uma pedra? Não importa, ela estava feliz. A levava com ela sempre, como um amuleto, mesmo às vezes a machucando por sua dureza. Em um dia qualquer, com pressa de ser feliz, correu o mais rápido que pôde. Acabou caindo e machucou muito o peito, onde a pedra estava. Não se importou com isso, continuou a carregando no mesmo lugar, mesmo piorando o machucado. Resolveu deixar na mesinha de cabeceira até conseguir levar a pedra no peito novamente. Pra quem viu de fora não foi nada de mais, mas doeu, doeu tanto que se tornou o avesso da dor.
     Os dias foram modelando sua vida até o dia que se olhou no espelho e não se reconheceu mais. Olhou para a pedra, que estava linda banhada pela luz do sol, como quem admira uma obra de arte. Levou-a em uma loja e pediu para que ela fosse colocada em um colar, pra ficar perto do coração, onde estava acostumada. Não era uma pedra qualquer, era sua pedra preferida, merecia mais, muito mais do que a garota podia dar. A pedra só merecia o melhor e a garota seguiu só, vazia, pensando que nunca mais sentiria aquilo tudo novamente. Seguiu, mesmo apática, porque a vida segue. Nasceram para se apaixonar, mas não para ficarem juntas. E assim a pedra foi para a vitrine, em um belo colar de ouro, esperando fazer parte da felicidade de alguém.