quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ponto Final




"As mais perigosas de nossas avaliações são
aquelas que chamamos de ilusões."

 Georges Bernanos

   Gotas, uma a uma, acariciando o vidro da janela onde me encontrava sentada há umas duas horas. A chuva lá fora parece não querer parar. O céu resolveu ser solidário e compartilha suas lágrimas com as minhas. Lágrimas que um dia foram gelo. O gelo forte, denso, capaz de lutar contra tudo, com quem fosse para permanecer ali, refrescando seu ego. Uma faísca aqui, outra ali não foram suficiente para fazer derreter uma só gota. Afinal está congelado, não se vê com nitidez o outro lado, mas está, inteiramente, sempre ao lado. Mas por força maior o gelo vai derretendo e, finalmente consegue-se enxergar o outro lado cada vez melhor. A verdadeira paisagem se revelando só agilizou o processo. As gotas vão escorrendo cada vez mais rápido até não restar mais nada e então, se vê o que realmente tinha do lado de lá. Quem é você? Aquela estória de idealizar alguém que não existe faz todo sentido agora. Não que buscasse a perfeição, mas sim peças que são perfeitas pra mim – para não dizer essenciais.
    Engraçado como aquela música que me fazia viajar a ponto de me deixar sem ar, escutando ela hoje, é apenas uma boa música. Não seria a primeira nem a última vez que um admirado herói, espremendo bem os olhos, se torna o inesperado vilão.
   Não se trata simplesmente de não concordar com atitudes, não aprovar comportamentos, não pensar da mesma forma, muito menos julgar. O ponto é aquilo que sempre vem acima de qualquer outra coisa, sentimento, desejo ou simples diversão. O ponto que cresceu com você, que te faz escolher este caminho ao invés daquele. Que exige a justiça, mesmo que você seja o mais prejudicado. Que, por mais vontade ou sentimento que tenha, não torna o ato real por simples respeito e amizade. Que não pensa, em nenhum momento em prejudicar, mesmo que você ganhe com isso. E é esse ponto que deveria finalizar cada atitude e pensamento. E talvez por isso que o gelo derreteu tão rápido no final. Não tinha um ponto que me ligasse (mais) a você. Eu procurei várias vezes, juro. Isso é bom? Pode-se dizer que foi a chave que me libertou do País das "Maravilhas". E você... bom, creio que é melhor começar a pontuar melhor a sua vida.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

The Game...

"Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. (...)
Prefiro reconhecer com o máximo de tranquilidade possível que
estou só do que ficar à mercê de visitas adiadas e encontros transferidos."

C.F.A.

   O sussurro inesperado que sopra seu nome. O convite que te deixa sem graça. As provocações que te envaidecem.
   A tentação bate a porta. Uma, duas, várias vezes. Até que você - por vulnerabilidade misturada com vontade - aceita a proposta insistente. Mas como assim você foi embora? A bebida ainda permanecia em cima do balcão e o gelo já havia desistido de refrescar a noite. Tudo bem, eu bebo sozinha. Cada gole descia com um ponto de interrogação meio amargo.
  Dias silenciosos caminharam pelo calendário. Como uma nuvem que passa simplesmente por passar, você reaparece. Uma nova proposta é lançada. Com receio é pega no ar só para ver no que ia dar. Desta vez eu te vi. Bastaram dois minutos que virei as costas e, quando retornei, olhei ao redor, já não estava mais lá. Palavras lançadas como flechas certeiras que acompanhavam atitudes aparentemente desinteressadas. Quem tinha que fugir era eu. É um jogo? Claro! Só cuidado para não brincar demais. Eu também sei jogar quando eu quero. O fogo que, olhando rápido, parece brando pode queimar mais do que o incêndio mais violento. Jogue os dados e espere ver qual número vai dar. Ao invés de sair correndo, experimenta cutucar e ficar da próxima vez. Assim eu poderia olhar com calma dentro dos seus olhos e ver a vibração das suas células acompanhando o compasso acelerado do coração.
   Diz que vivo no ninho. Fala com todas as letras que quer, mas não sai da sua zona de conforto. As coisas têm que ser sempre do seu jeito. E caso não sejam, você some numa rapidez e precisão digna de show de ilusionismo. A tímida sou eu, lembra? A timidez que você diz gostar. Pois não parece... vem e fala isso a menos de 5 centímetros do meu rosto, olhando nos meus olhos, pra ver se me convenço. Consegue? Se ainda quiser, estarei aqui, no mesmo lugar. Não hesitarei, prometo. Porém, também não darei nem mais um passo neste tabuleiro.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Frágil


Frágil como toda e qualquer mudança. 
Deve ser feita devagar, doando o que ainda 
é bom e jogando fora o que só ocupa espaço.

 Engraçado como tudo na vida se transforma. Inclusive você mesmo. E acredite, é natural. As mudanças são necessárias e essenciais. São os desconhecidos que se tornam espantosamente presentes, já fazendo parte de você, assim como você deles. O carinho que, sem motivo algum cresce e começa a visitar seus pensamentos dia a dia. A antipatia que ameniza tornando-se indiferente e, quem sabe até, em momentos engraçados. O que era antes não é mais. Hábitos, manias, sentimentos, pensamentos. E a vida vai lhe mostrando portas que, talvez você não tenha a chave, mas vai abrir um dia ou a qualquer momento. Arriscando desde uma simples mudança de caminho na volta pra casa só pra ver o que acontece, mesmo sabendo que a probabilidade de novidades seja mínima. Sim, a vida é muito ampla e rica pra ficar se restringindo de tudo e todos - principalmente de si mesmo. Uma das coisas mais importantes que entendi – e da forma mais dolorosa possível – é que devemos nos esforçar sempre pra fazer bem e arrancar sorrisos de quem a gente realmente ama, enquanto podemos fazê-lo. E, por mais que tenha receio ou esqueça muitas vezes, tento colocar "este lado para cima" sempre que possível. Então realmente não me importo se não vão aceitar ou vão interpretar de um jeito totalmente errado as minhas reais intenções. Eu tenho vontade, eu vou fazer, porque só eu sei o bem que me faz cuidar de quem faz a diferença. As pessoas especiais são poucas, porém, te completam de uma forma quase que abstrata, mas incrivelmente intensa. É difícil – pra não dizer impossível – imaginar a vida sem elas. Não tem como saber quando ele será transferido para outro estado por causa do trabalho, quando ela fatalmente - do dia pra noite - nunca mais sairá com você às compras ou quando ele irá se apaixonar e morar no exterior.
 Exatamente por ser especialmente frágil que se deve cuidar como se fosse de você mesmo. Sem medir esforços, sem esperar nada em troca, sem pensar. Porque a mudança que você está planejando pra começar o mês que vem, meu bem... pode não dar tempo nem de encaixotar.