segunda-feira, 27 de maio de 2013

Descoberta


   Sempre importante, curiosa, essencial para crescer. Descobrir que não precisa de ninguém pra ser feliz, mas é delicioso quando alguém pode estar ao seu lado pra comemorar junto. Que amizade verdadeira é o melhor, mais raro e valioso presente que se pode ter. Que família é importante sim e com ela se aprende coisas que usará para o resto da vida. Descobrir que se proteger é preciso, claro, mas não o tempo todo. Que ser você mesmo vai, inevitavelmente ter o lado ruim, mas terá também coisas das quais terá muito orgulho. Então, garota, pare de insistir em esconder o seu lado mais lindo só porque isso pode te tornar frágil aos olhos dos outros. Se descubra dessa fachada que você acha que te protege e que, na verdade te afasta das pessoas, te afasta do real amor − seja ele qual for. Descubra toda a força existente em ser você mesma, falar o que pensa, demonstrar o que sente sem medo das consequências. Entenda que isso destrói qualquer coisa, qualquer um. Descubra que fugindo você se afasta de você mesma, consequentemente da felicidade que tanto busca, mesmo ela não sendo para sempre.
   Espero que descubra tudo que te afasta dos seus sonhos. Se descubra de tudo que não é seu, que não é você. Deixa aparecer o seu lado bonito, se deixe fazer o que lá no fundo tanto quer, mas recua. Se deixe livre! Não, não é aquela liberdade 'porra-louca', é aquela liberdade da alma, daquela que te faz suspirar aliviada no ritmo da tua alegria. É descobrir que aquelas peças faltantes naquele olhar são justamente as que você leva no bolso esquerdo. É descobrir que dormir daquele jeito é o que te traz paz. Que não é tão legal ser "a independente" quando tem que comer aquela sobremesa sozinha. Descobrir que a letra daquela música que, por fora, você canta por cantar é a que joga na sua cara as verdades que nega para si mesma. Que se pode descobrir muito de uma pessoa apenas olhando em seus olhos enquanto conversa com ela sobre qualquer coisa comum. Descobrir que fazer alguém sorrir pode ser mais mágico pra ela do que pra você. Descobrir que existe muito mais quando duas mãos se encaixam. Que os seus melhores sorrisos e gargalhadas foram ao lado dele. Descobrir que você era feliz e não sabia e que aquele abraço é o que você quer todos os dias mas não tem coragem de pedir. Então chega de perder tempo, perder momentos, se perder. Hora de se descobrir e viver tudo que a vida tem pra lhe dar, receber o que você talvez ache que não mereça, mas é exatamente aquilo que está precisando naquele momento. Então pegue! Cada dia que recua é um sorriso a menos, é um sofrimento desnecessário. A partir de hoje, garota, te proíbo de tudo que embaça seu sorriso amável.  Te exijo infinitamente descoberta!
 


terça-feira, 21 de maio de 2013

Eu X eu


"Eu te amo. Mesmo negando. Mesmo deixando você ir.
Mesmo não te pedindo pra ficar. Mesmo não olhando mais nos teus olhos.
Mesmo não ouvindo a tua voz. Mesmo não fazendo mais parte dos teus dias.
Mesmo estando longe, eu te amo. E amo mesmo. Mesmo não sabendo amar."
Caio Fernando Abreu


   Vida de novela: Bem estar, tranquilidade, alegria, longe de toda e qualquer preocupação. Beijos, abraços, passeios, presentes, viagens, liberdade ... uma felicidade tão desejada, tão completa, tão falsa. Me preenche até um momento, depois vem o estranho vazio questionador. Sozinha no quarto reflito sobre tudo que sou e tenho com ele. A família o idolatra e o ama mais que você. É perfeito! – visto de fora. Mas aqui dentro ainda falta algo. Falta eu mesma. Aquele 'eu' que sou quando estou contigo. Aquele 'eu' que fala a besteira mais idiota que passou pela cabeça naquele momento e você ri. Que fala do homem estranho que estava atrás na fila do banco e pediu 50 centavos "emprestado". Aquele 'eu' que conta com entusiasmo uma ideia que teve e encontra o apoio ideal pra executá-la. Aquele 'eu' que pode contar sem receios o tombo que levou no meio do ônibus lotado. "Aquele 'eu' que evita te pedir ajuda, mas não pensa duas vezes em aceitar quando você a oferece. Falta aquele 'eu' que é infinitamente amado até quando não merece. O 'eu' que morre de medo de te levar a sério e ao mesmo tempo morre de vontade e saudade de você.  Aquele que sabe que pode confiar e que tem apoio em tudo que faz, por mais absurdo que seja.  Um 'eu' que pode até se sentir atraído por outros, mas, secretamente, é em você que pensa na inquietude sobre a cama até pegar no sono. Aquele 'eu' que sem querer fala algo sem pensar que pode te magoar, mas quando viu já falou. O 'eu' que sente seu perfume no meio da multidão, fecha os olhos e, depois de um rápido suspiro, continua a andar como se nada tivesse acontecido. Um 'eu' que ridiculamente se joga em outros braços em fracassadas tentativas de mostrar alguma coisa. Aquele 'eu' que vê coisas durante o dia, lembra de você e sorri. Aquele 'eu' que pode deitar no seu colo e contar, em meio às lágrimas contidas, o lado mais negro da minha vida, a parte mais horrível do meu ser, que será ouvido com um olhar doce, compreensivo e um cafuné carinhosamente acolhedor. É desse 'eu' que insisto em fugir, consciente ou inconscientemente. Nego, sempre vou negar te amar, porque assim é mais fácil, assim nada me prende. Mesmo não tendo certeza alguma sobre nós, é desse meu 'eu' que mais sinto falta. Ironicamente, descobri que este é o meu melhor 'eu'. Contraditório, eu sei. Mas o 'nós' é muito mais frágil e complicado que aquele  meu 'eu', por isso acabo escolhendo ele, mesmo ele não existindo longe de você.
    E então fico com ele, onde crio um 'eu' que é aceito, perfeito, seguro, livre, onde eu comando tudo e todos. Lá não devo satisfações, não tenho obrigações com ninguém, não preciso me esconder. Lá sou poderosa, desejada, invencível,... vazia e superficial. Apenas mais uma, como tantas outras por aí, que vivem se enganando dia após dia, pois despejaram sua rica e singular essência no molde do "eu ideal". 


*Inspirado no último filme que assisti, mas não lembro o nome. =/

 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

(Es)colha


   
  Enquanto me distraía com os olhares que passavam por mim o sentimento ia se modificando. Subi correndo na árvore, se vê bem melhor dali, além de estar fora do alcance dos outros olhares. Observando o galho ao lado, onde ela costumava ficar, me recordei de suas palavras filosofadas com toda a sabedoria de suas cicatrizes. Embora sua frieza me arrancasse certa pena, ela não me parecia tão errada. Ela nunca arriscava largar do tronco para pegar minha mão com medo de cair. A compreensão me acompanhava enquanto, cantando, me aventurava em galhos mais altos. Arranhava-me no caminho, claro, mas que graça tem ficar lá embaixo, sentado no galho mais baixo e perto do chão? Não o perdia de vista em nenhum momento. Jogávamos ao vento palavras, confissões, indignações, memórias. Mentiras não. Sabíamos que mentir pra si mesmo é atraso, é autodestruição. Não tínhamos segredos mais um com o outro. Ela me conhecia tão bem que lia meus olhos até quando eles estavam fechados. Desci e, do galho mais baixo pulei, assustando-a.

- Não escorrega! Pula!
- Não... vou me machucar.
- Se você se machucar eu vou estar aqui embaixo pra cuidar de você.
- Eu sei, mas eu já me machuquei assim...
- Comigo?
- Não...
- Então...


    Ela hesitou por um tempo. Olhou no fundo dos meus olhos e pulou. Caiu de pé, intacta. Quem a derrubou fui eu ao pular no seu colo, gargalhando juntas. Foi sua escolha. Foi assim que vi pela última vez aquele sorriso. Cada escolha é uma semente que se planta, mas que se colhe suas consequências. Eu continuo subindo todos os dias na nossa árvore, até o último galho que consigo. E eu sei, que em algum lugar, ela está pulando, se arriscando, vivendo sem medo de se machucar. E isso é o que importa, não é? Se jogar, arriscar ao invés de ficar contando e sentindo as cicatrizes. Elas inevitavelmente estarão sempre ali, mas você não precisa – nem deve – estar junto.