terça-feira, 25 de outubro de 2011

Cíclica e Crescente Sede da sua Intensidade [ Série "Títulos" ]

Entre invernos e infernos da alma os dias vão passando, embalados pelas semanas que, ao mesmo tempo em que passam voando – me mostrando o tempo que perdi –, se arrastam – a cada dia que não te vejo. Enquanto isso eu me pego rodando em linha reta, caminhando por mais um dia sem data.
    Mas cá entre nós, quem nunca contou as quedas? Tropeços que alertam, quedas que ensinam, paixões que alimentam, amores que matam. Embora fugisse não poderia mais me segurar em nada, estava caindo em tentação pelo verbo descobrir. Sim, descobri pelo amor e também pelo desespero por ser barrada pelo espaço que me impede de cuidar de você quando te vejo como uma criança no escuro... e me vem o desejo súbito de te deitar no meu colo enquanto perco meus dedos no seu cabelo... assim, sem esperar nada em troca. Sério!
    Lembranças da noite que finalmente aceitou tudo aquilo, vestiu a roupa nova que ainda levava a etiqueta na gola e usou aquele batom vermelho-cereja que ganhou no natal passado. Voltou pra casa estranhamente leve como uma caixa cheia, recheada de sensações e confusões que se misturavam e esbarravam no autoconhecimento. Nesse mesmo dia, com a alma letárgica, eu tive a impressão que não ficaria triste se teus lábios nunca viessem a tocar os meus. Porque não quero ser mais uma boca de mais uma noite de adrenalina passageira e alegria embriagada, da qual você provavelmente não se recordará muito bem. E mesmo que muitas vezes eu beba na esperança de que os pensamentos confusos se organizem, eu não gosto (nunca gostei). Eu quero sim – não tenho mais como negar o encanto que exerce sobre mim –, mas com a condição de se lembrar de cada minuto, cada carinho, cada palavra, cada olhar. Mesmo que tudo isso não volte a acontecer. Mesmo que nunca venha a acontecer. De qualquer forma sempre estarei por perto, o quanto você permitir, ali, pronta. Conte... I, II, III,... quando estiver pensando em começar eu já estarei tocando a campainha com um chocolate quentinho e uma rosa vermelha que perdeu algumas pétalas no caminho pela minha pressa de chegar.
    Tantos anos num estado congelado que agora parece que não sei mais lidar com isso. O comodismo se junta com os receios que me acorrentam ao chão. Manter-se sempre na zona de conforto podem custar ausências e perdas irreparáveis. Pode – e vai – tornar a fantasia calada em desejo sufocado e, consequentemente, o amor em simples lápide, com anotações de um tempo conturbado de uma série de desesperos lúcidos e vestígios que adormecem. Então já será tarde outra vez.  Os sons vão ficando mais distantes e o blackout é inevitável, quase induzido.
    Ligo a TV e tento viajar nela para esquecer o constante conflito dentro de mim, estampado no meu rosto e que o espelho insiste em me jogar na cara. Não sei quem estava cantando, mas com certeza ela não era uma rock-star. O que importa? Podia ser minha cantora preferida, a saudade ia continuar engasgada, os olhos marejados e levemente fechados pra (só assim) encontrar você.
 O fato é que nem sempre dá pé. E aí, mesmo não tendo absolutamente nada para te dar impulso, é hora de usar toda sua força para subir. Inspirar, se segurar em sua essência e subir. Foi então que percebi que outro alguém assistia tudo de longe. Talvez já estivesse ali a um tempo e nem tinha me dado conta. Aproximando-se com um sorriso trazia algo nas mãos, que gracinha. O que se quer nem sempre é o que se precisa. Quem sabe um novo embrulho e uma rosa bastariam. Pelo menos naquele momento. Mas no minuto seguinte, lá no fundo, por mais que ignore, ainda se se ouve um grito lá de dentro – num tom ensurdecedor – “procura-se por intensidade”... pela sua intensidade!


Criado carinhosamente a partir dos títulos (e algumas expressões) de Ana Paula Prestes 
http://coracaodegas.blogspot.com

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