sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Último Erro


"Ousa dizer a verdade: nunca vale a pena mentir. Um erro que precise de uma mentira, acaba por precisar de duas."
George Herbert


       Dói. Dói e não é pouco. Prefiro mil vezes que errem comigo do que eu errar com os outros. E quando se erra com quem ama, aí sim, são dor e culpa eternas. Não importa as justificativas, os motivos. Não importa se é pra proteger, por confusão. Realmente não importa, a dor é a mesma. Mas nunca, em nenhum momento errei por maldade, por sacanagem. Queria que me desculpasse por não saber lhe dar com meus próprios sentimentos, ainda mais quando se misturam tanto e em tão curto espaço de tempo. Eu fiz uma escolha, segui o coração, mas isso não apaga de um dia para o outro os outros sentimentos que nele habitavam. Eu me punia a todo instante e a angústia e desespero me faziam não conseguir falar um minuto no assunto, deixando as coisas como estavam. Eu só queria, desesperadamente, que passasse logo. E como se não bastasse não passar, foi piorando, machucando. E esse amor já foi tão machucado e maltratado que às vezes - talvez pela minha fase negra - penso que não sobreviverá. Não consigo conviver com a minha culpa, logo não consigo ser eu mesma, não consigo dizer "eu te amo" sem me sentir culpada, simplesmente não consigo mais. Não basta me recriminar todos os dias, minha maior punição é ficar sem você. Te farei sorrir, te ajudarei, te amarei pra sempre, por todas as minhas vidas. E por te amar tanto, prometo estar sempre ao seu lado, mas não mais contigo. Essa foi a última vez que te magoei, esse foi meu último erro.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Notas Mudas


     Sensação contínua. Vazio, seco, coma. Qualquer coisa lançada bate e volta, não penetra. Silêncio. Anestesia geral. Nenhuma música toca, as notas não têm significado, não formam nenhuma melodia. Nem o rock mais barulhento, no último volume causa alguma reação. Passa por um animal morto como se passassem por uma pedra. Uma longa estrada para percorrer e ela se senta calmamente no chão de terra e fica horas observando o horizonte. Não, não pensa em nada específico, apenas existe. Quando vê já é de noite, mês que vem, já é natal. Mais um ano, literalmente, existindo. Será sempre assim? Todo final de ano recolher seus sonhos e metas empoeirados de cima do armário e guardá-los na gaveta. "No ano que vem eu consigo!". Não foi isso que disse no ano passado? E no retrasado? E que provavelmente dirá no final do ano que vem. Daqui há 5 anos. E novamente, com os cabelos brancos, na cadeira de balanço.
     Parece que nunca mais vai recuperar aquele "eu" que ela foi até desabar de vez. Talvez sua alma tenha se perdido nas lágrimas infinitas que caíram por tanto tempo. A alegria, a inspiração, os sentimentos bons derreteram com o calor da dor. Parece que aquela energia, aquele sorriso radiante, o amor pela vida, aquela garra ficaram definitivamente para trás. E se estivesse viva, poderia dizer que é esta ausência de si mesma que a mata.