quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Malaxofobia

 


"O horror visível tem menos poder sobre
a alma do que o horror imaginado."
William Shakespeare

Dizem que se você consegue falar de uma dor sem chorar, é porque você a superou. Hoje assumi pra mim mesma que não cicatrizou. Acredito que não foi por terminar repentinamente depois de momentos intensos. Não foi por usar um motivo que não encaixava na minha lógica. Foi pela forma que a notícia chegou, com o despejar de raiva, humilhação, crueldade e usando tudo que confiei para machucar. Até da minha maior dor foi colocada sobre a mesa de plástico, tão fria quanto o coração de quem falava. Eu achei que iria parar de respirar, enquanto meu corpo queimava por dentro. Enlouqueci. Comer era quase impossível. O banheiro do trabalho era o lugar seguro para as lágrimas, quando os pensamentos agitados entravam em combustão.

O ímã que atraiu as almas trocou de lado, prantos intermináveis, rezando, ora pra Deus, ora pro Diabo. Tivemos outras chances, que só se desgastaram com inúmeras atitudes erradas de ambas as partes. Tentei fugir várias vezes, confesso, da maneira errada. Mas a necessidade de fugir era maior do que o sentimento, que volta e meia, pesava mais na balança. O medo das explosões criava as omissões, as fugas, a necessidade desesperada de paz a qualquer custo.

Caminhei até a praça pra te ver de longe. Não estava preparada para te ver de perto e, quando vi, me deparei com uma frieza agressiva. Vi aquela que conheci há anos atrás. "Ninguém se cura sem cortar a causa do mal, sem se privar do que machuca (...) Ninguém volta a sorrir nos lugares onde sua felicidade foi perdida, roubada, aviltada, negada." E isso vale pra você também. Acredito que devemos deletar as "culpas", porque delas nada de bom sairá. Mas é importante nos protegermos, sem machucar, sem trair a confiança que um dia foi depositada uma na outra. Sofrer com dignidade e respeito a tudo que foi vivido. 

A verdade é que não há remédio que mude a essência, a reação de machucar toda vez que se sente machucada, estando juntas ou não. Entendi meu medo de você, mas vou me curar um dia. Entendi que meu inconsciente nunca esteve errado em me proteger, ele sabe que outra dor dilacerante eu não resistiria. Nunca foi falta de amor, foi, e continua sendo, pânico de morrer de novo. É instinto de sobrevivência.