Acordei sorrindo, absorvendo a maresia por todos os poros. Tentando ser o mais silenciosa possível pra não te acordar. Fui até a janela admirar o mar que, nos últimos dias, tem sido o cenário dos momentos mais doces que já tive. Nada grandioso, somente coisas simples que só você sabe dar o tempero necessário tornando-as eternas na memória. Ao voltar ao presente - quase que no susto - me apressei até a cozinha para preparar um capuccino quentinho, sem açúcar, do jeito que gosta. Te despertar acariciando seu rosto e recebendo um sorriso sereno em troca é a sinopse de mais um dia perfeito.
Lado a lado, de frente para o mar, comentamos sobre as conchas mais bonitas que achamos no caminho. A minha preferida é a que tem forma de coração. A primeira que achei e escondi para te entregar por último.
Os grãos de areia se misturam com as pintas que mapeiam seu corpo, delimitando o território que tomou conta do meu mapa enquanto estava distraída. O beijo salgado e prolongado quase que em câmera lenta. Descobri o aroma sublime resultante da junção do mar com seus cabelos que deixaria qualquer Chanel Nº 5 pra trás.
Acordei pra ser feliz mais um pouco. Para a minha surpresa você já tinha se levantado da cama. Te chamo sorridente pelos cômodos, esperando a quaquer momento a surpresa. E a encontrei. O sorriso ansioso se transforma em lábios trêmulos. Um pedaço de papel rabiscado com pressa junto com meu último presente: "Nossas lembranças irão durar uma vida inteira. Guarde as melhores com você, esqueça as outras". Não precisava de nenhuma palavra a mais pra entender que seu passado veio te buscar. Temia que isso viesse a acontecer mais cedo ou mais tarde, mas ignorei essa possibilidade por simples medo. E o que haviamos vivido acabou me distraindo tanto que esqueci que isso poderia acontecer.
Foi o que guardei então, fora o próprio amor. A música que marcou, o silêncio entre as palavras, o meu silêncio. Farelos de momentos, palavras não ditas, um adeus negado, mágoas. Apanhei pedaço por pedaço do (nosso) passado espalhado pelo chão e tentei transformar num futuro que fosse no mínimo agradável.
O passado é o mais presente em nosso presente, que inevitavelmente fica de presente. Você pode guardá-lo debaixo do travesseiro ou no fundo do armário, dentro de uma caixa lacrada, a qual não pretende abrir mais.
O passado é o mais presente em nosso presente, que inevitavelmente fica de presente. Você pode guardá-lo debaixo do travesseiro ou no fundo do armário, dentro de uma caixa lacrada, a qual não pretende abrir mais.
Não podia - nem tinha o direito - de impedir você de ir atrás do que faz seu coração acelerar a ponto de perder o ar. Só não queria que levasse o meu junto sabe-se lá pra onde. Quando tiver um tempo - entre uma alegria e outra - devolva ele na caixa de correio. Só caso eu venha precisar dele novamente por conta de um susto ou um pesadelo qualquer. E sem perceber é onde eu estava: em um pesadelo. Aquilo que sempre rondava meus medos resolve acabar com o sonho que estava sendo saboreado com todos os cinco sentidos.
A onda inesperadamente forte que derruba o castelo de areia, construido pouco a pouco, com as medidas certas e a areia selecionada. A onda fria que te desperta do sono com uma brutalidade quase cruel. Estirada no chão como se tivesse desabado, relembra cada minuto vivido ali. E sobre a areia permanece com olhar fixo, onde as lágrimas e o mar viram um só. Quase coberta totalmente pela água, sem qualquer reação, entendeu que nem tudo que acaba tem um fim.
A onda inesperadamente forte que derruba o castelo de areia, construido pouco a pouco, com as medidas certas e a areia selecionada. A onda fria que te desperta do sono com uma brutalidade quase cruel. Estirada no chão como se tivesse desabado, relembra cada minuto vivido ali. E sobre a areia permanece com olhar fixo, onde as lágrimas e o mar viram um só. Quase coberta totalmente pela água, sem qualquer reação, entendeu que nem tudo que acaba tem um fim.