"Eu te amo. Mesmo negando. Mesmo deixando você ir.
Mesmo não te pedindo
pra ficar. Mesmo não olhando mais nos teus olhos.
Mesmo não ouvindo a
tua voz. Mesmo não fazendo mais parte dos teus dias.
Mesmo estando
longe, eu te amo. E amo mesmo. Mesmo não sabendo amar."
Caio Fernando Abreu
Vida de novela: Bem estar, tranquilidade, alegria, longe de
toda e qualquer preocupação. Beijos, abraços, passeios, presentes, viagens,
liberdade ... uma felicidade tão desejada, tão completa, tão falsa. Me preenche
até um momento, depois vem o estranho vazio questionador. Sozinha no quarto
reflito sobre tudo que sou e tenho com ele. A família o idolatra e o ama mais
que você. É perfeito! – visto de fora. Mas aqui dentro ainda falta algo. Falta
eu mesma. Aquele 'eu' que sou quando estou contigo. Aquele 'eu' que fala a
besteira mais idiota que passou pela cabeça naquele momento e você ri. Que fala
do homem estranho que estava atrás na fila do banco e pediu 50 centavos "emprestado".
Aquele 'eu' que conta com entusiasmo uma ideia que teve e encontra o apoio
ideal pra executá-la. Aquele 'eu' que pode contar sem receios o tombo que levou
no meio do ônibus lotado. "Aquele 'eu' que evita te pedir ajuda, mas não
pensa duas vezes em aceitar quando você a oferece. Falta aquele 'eu' que é
infinitamente amado até quando não merece. O 'eu' que morre de medo de te levar
a sério e ao mesmo tempo morre de vontade e saudade de você. Aquele que sabe que pode confiar e que tem
apoio em tudo que faz, por mais absurdo que seja. Um 'eu' que pode até se sentir atraído por
outros, mas, secretamente, é em você que pensa na inquietude sobre a cama até
pegar no sono. Aquele 'eu' que sem querer fala algo sem pensar que pode te
magoar, mas quando viu já falou. O 'eu' que sente seu perfume no meio da
multidão, fecha os olhos e, depois de um rápido suspiro, continua a andar como
se nada tivesse acontecido. Um 'eu' que ridiculamente se joga em outros braços em
fracassadas tentativas de mostrar alguma coisa. Aquele 'eu' que vê coisas
durante o dia, lembra de você e sorri. Aquele 'eu' que pode deitar no seu colo
e contar, em meio às lágrimas contidas, o lado mais negro da minha vida, a
parte mais horrível do meu ser, que será ouvido com um olhar doce, compreensivo
e um cafuné carinhosamente acolhedor. É desse 'eu' que insisto em fugir,
consciente ou inconscientemente. Nego, sempre vou negar te amar, porque assim é
mais fácil, assim nada me prende. Mesmo não tendo certeza alguma sobre nós, é
desse meu 'eu' que mais sinto falta. Ironicamente, descobri que este é o meu
melhor 'eu'. Contraditório, eu sei. Mas o 'nós' é muito mais frágil e
complicado que aquele meu 'eu', por isso
acabo escolhendo ele, mesmo ele não existindo longe de você.
E então fico com ele, onde crio um 'eu' que é aceito, perfeito, seguro, livre,
onde eu comando tudo e todos. Lá não devo satisfações, não tenho obrigações com
ninguém, não preciso me esconder. Lá sou poderosa, desejada, invencível,...
vazia e superficial. Apenas mais uma, como tantas outras por aí, que vivem se
enganando dia após dia, pois despejaram sua rica e singular essência no molde
do "eu ideal".
*Inspirado no último filme que assisti, mas não lembro o nome. =/