Sensação contínua. Vazio, seco, coma. Qualquer
coisa lançada bate e volta, não penetra. Silêncio. Anestesia geral. Nenhuma
música toca, as notas não têm significado, não formam nenhuma melodia. Nem o rock
mais barulhento, no último volume causa alguma reação. Passa por um animal
morto como se passassem por uma pedra. Uma longa estrada para percorrer e ela
se senta calmamente no chão de terra e fica horas observando o horizonte. Não,
não pensa em nada específico, apenas existe. Quando vê já é de noite, mês que
vem, já é natal. Mais um ano, literalmente, existindo. Será sempre assim? Todo
final de ano recolher seus sonhos e metas empoeirados de cima do armário e
guardá-los na gaveta. "No ano que vem eu consigo!". Não foi isso que disse
no ano passado? E no retrasado? E que provavelmente dirá no final do ano que
vem. Daqui há 5 anos. E novamente, com os cabelos brancos, na cadeira de
balanço.
Parece
que nunca mais vai recuperar aquele "eu" que ela foi até desabar de
vez. Talvez sua alma tenha se perdido nas lágrimas infinitas que caíram por
tanto tempo. A alegria, a inspiração, os sentimentos bons derreteram com o
calor da dor. Parece que aquela energia, aquele sorriso radiante, o amor pela
vida, aquela garra ficaram definitivamente para trás. E se estivesse viva,
poderia dizer que é esta ausência de si mesma que a mata.
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