"Coragem, às vezes, é desapego. É
parar de se esticar em vão, para trazer a linha de volta.
É aceitar doer
inteiro até florir de novo."
Caio Fernando Abreu
Caio Fernando Abreu
Ela já
havia passado por tristezas profundas outras vezes, não era nenhuma novidade.
Mas agora tinha algo diferente. Conformou-se em ser infeliz, por algo ou
alguém. Aceitou como alguém que aceita uma missão, por achar que era o certo, o
justo, o que deveria ser feito. Dia após dia, acordava e vivia para alguém até o
momento de dormir e, gradativamente, deixava a sua própria vida ir se apagando. Cada vez
raciocinava menos, apenas fazia o que tinha que fazer, como um robô programado
pra fazer as pessoas felizes. Seu sistema era atualizado a cada “erro”
cometido. Não podia isso, aquilo não era de acordo com as regras. Não, não dá
tempo de passar o antivírus, precisava executar a tarefa diária. O programa não
podia parar de rodar. Atualizando... Sobrecarga no sistema... Formatando disco...
Executando... Executada. Quando deu-se conta estava sendo enterrada viva, junto
com seus sonhos e lembranças boas. Lágrimas constantes acariciavam os lábios...
o sorriso enferrujou e ninguém notou. Doeu alucinadamente ao pensar que não é
quem ama que iria fazê-la feliz. Negou isso por muito tempo, até que não pôde
mais ignorar o cinza do seu sorriso ao se olhar no espelho. Não se preocupe,
você sempre vai poder usá-la em modo de segurança, mesmo alguns programas não
funcionando. Algumas coisas são eternas dentro de nós, não importa o que
aconteça fora.
Ela, depois
de muito tempo mergulhada em hipóteses, entendeu o problema. Não, nunca faltou
amor, faltava – há muito tempo – sorrisos. Preferiu ter a pessoa que mais ama
por perto do que a sua própria felicidade. Mas tudo tem um preço. Chegou ao
limite, se desse mais um passo sabia que não voltaria mais. Era curto circuito
na certa e, antes que isso acontecesse, o sistema de segurança desligou a
máquina sem autorização do administrador. Coração, mente, sexo, alma, tudo
colocado automaticamente para hibernar até que o sorriso volte a funcionar.
Olá, como vai?
ResponderExcluirEsses fragmentos dilaceram o pensamento, traz um vago, um silencio cibernético, sobre eles eu sei por incompleto. Sempre me isento do amor quando o banco de dados está concluindo. Roland Barthes traz em seu livro "Fragmento do discurso amoroso" várias divisões sobre o amor. Capacidade de exercitar em outros limites esse sentimentos que não é para ser explicado e sim sentido.
Depois tu faz o backup e atualiza os dados que nem o Caio Fernando disse na frase acima o texto.