quinta-feira, 17 de março de 2016

"Daqui a 50 anos eu ainda vou saber seu nome e vou me lembrar de todas as vezes que você me fez sorrir. Na minha memória, tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos."
Caio Fernando Abreu


      Ela caminhava no lugar de sempre e sem pretensão alguma quando tropeçou naquela pedra de formato singular. Guardou-a no bolso e seguiu em frente. Cuidava dela com tanto carinho que os outros não entendiam. Intrigou-se com o seu brilho, lapidou e encontrou a parte mais bonita da pedra. Mas ela se apaixonou por uma pedra? Não importa, ela estava feliz. A levava com ela sempre, como um amuleto, mesmo às vezes a machucando por sua dureza. Em um dia qualquer, com pressa de ser feliz, correu o mais rápido que pôde. Acabou caindo e machucou muito o peito, onde a pedra estava. Não se importou com isso, continuou a carregando no mesmo lugar, mesmo piorando o machucado. Resolveu deixar na mesinha de cabeceira até conseguir levar a pedra no peito novamente. Pra quem viu de fora não foi nada de mais, mas doeu, doeu tanto que se tornou o avesso da dor.
     Os dias foram modelando sua vida até o dia que se olhou no espelho e não se reconheceu mais. Olhou para a pedra, que estava linda banhada pela luz do sol, como quem admira uma obra de arte. Levou-a em uma loja e pediu para que ela fosse colocada em um colar, pra ficar perto do coração, onde estava acostumada. Não era uma pedra qualquer, era sua pedra preferida, merecia mais, muito mais do que a garota podia dar. A pedra só merecia o melhor e a garota seguiu só, vazia, pensando que nunca mais sentiria aquilo tudo novamente. Seguiu, mesmo apática, porque a vida segue. Nasceram para se apaixonar, mas não para ficarem juntas. E assim a pedra foi para a vitrine, em um belo colar de ouro, esperando fazer parte da felicidade de alguém.

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