quarta-feira, 15 de abril de 2015

(Lou)cura


     lou.cu.ra sf. 1 Estado de quem é louco. 2 Desarranjo mental que, sem a pessoa afetada estar ciente do seu estado, lhe modifica profundamente o comportamento e torna-a irresponsável; demência; psicose. 3 Insensatez. 4 Aventura insensata. 
      Sou aquela que perdeu a razão e só comete desatinos. Não é mais só esquecer o que foi fazer naquele cômodo nem o branco que dá quando vai falar o nome de alguém. Não é mais não lembrar o que fez ontem ou esquecer um compromisso importante mais de uma ou duas vezes. Não é mais assistir uma aula e não absorver nada dela, muito menos se perder no tempo e ter que sair correndo. Dormir o dia todo e se dar conta que não deu comida ao cachorro é a mais leve das falhas. Podia passar o resto do ano indo da minha cama para o banheiro e vice-versa.
     Eu falo da loucura camuflada, daquela que ninguém suspeita, ninguém vê, de ter um mundo só meu, onde eu penso coisas absurdas e tenho sensações e atitudes que não aprovo, mas faço. E depois me arrependo, me culpo, me odeio. Sentir? Isso foi ficando cada vez mais escasso. Hoje sou capaz de assistir um assassinato brutal sem expressar nenhuma reação. Te assustei? Eu também. Isso vem me assustando há muito tempo. Vem me prejudicando seriamente há muito tempo em todos os sentidos e área da vida. Venho perdendo não só a razão, como também a paz, paciência, sonhos, desejos, as pessoas, sentimentos – principalmente os bons. Perdoem-me os que já fiz chorar e os que ainda vou fazer até me consertar. Estou em um limbo onde não quero trazer ninguém. Eu estou fora de mim, estou no automático, existindo, assistindo eu mesma destruir a minha vida e as pessoas que ainda sentem algo bom por mim. Estou perdida, buscando desesperadamente a cura antes que eu machuque mais ou mais alguém. Não vou desistir, agora tenho esperança de sair do coma que me encontro, pois chutei o comodismo, procurei ajuda e finalmente encontrei. 
     E meu único desejo, ainda que racional, é que eu consiga me curar a tempo de não perder a única coisa – e a mais importante – que tenho: um amor verdadeiro.


"... Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca; 
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio... (...) 
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante; 
Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade... (...) 
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço; 
E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada; 
Porque metade de mim é o que penso, mas a outra metade é um vulcão... (...) 
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável; 
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei... (...) 
Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba. 
E que ninguém a tente complicar 
porque é preciso simplicidade para faze-la florescer; 
E que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor
e a outra metade... também."

Oswaldo Montenegro


*Sim, repeti a citação!

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