“Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não
sei...”
Oswaldo Montenegro
O amor é um dos sentimentos mais belos que existem, mas não
quero que me ame. Ele é sutil, leve e salvador. Ele chega a transformar o pior
monstro em um anjo. Ele te faz esquecer-se do tempo, das horas, de você mesmo.
Ele faz brotar planos e sentimentos bons. Mas não, não me ame. Você se entrega de corpo e alma, mesmo sabendo
que é perigoso, mesmo sabendo que não é recíproco. Qualquer problema se torna
um nada quando se tem amor. Ele te torna invencível! É teu consolo, teu colo,
teu chão. Teu ouvido para as novidades e dores. Não me ame. Às vezes, parece
que vai explodir de tanto amor que tem dentro da gente que, se explodisse, só
iria espalhar sentimentos bons em quem fosse atingido. Você abre mão de muitas
coisas por amor, mesmo não podendo, mesmo te prejudicando, o faz sorrindo. Ele
te dá força, coragem e te transforma por dentro, tornando as qualidades maiores
e até corrigindo alguns defeitos. Você se desdobra por apenas alguns minutos
perto de alguém. Grita para o mundo o motivo do seu sorriso, sem o menor
constrangimento. Reconhece aquela voz no meio de várias outras sem dificuldade.
Não me ame, nunca. Pode passar horas olhando para aquele rosto sem se cansar,
enumerando o que mais te fascina. Apaixona-se por toda aquela família como se
fosse tua afinal, te deram o melhor presente que poderiam dar. Não se imagina
sem e quer que fique na sua vida para sempre e.... do dia para noite tudo
acaba. Sim, como se apertasse um botão, sua vida vira de cabeça para baixo, a
dor é tanta que parece que vai morrer. Deus! Como doía, nunca senti tanta dor
na minha vida. Tem que dar um jeito de sumir com tudo que está dentro para
parar de te rasgar a cada vez que respira. Você perde o controle do que sente, perde
seu trabalho, seus amigos, se isola. Perde-se, porque não importa em que
direção vá, a dor continua latente, gritando, te matando a cada dia. Até o dia
que a dor é tão grande e constante que anestesia seu corpo e alma. Olha no
espelho e sente pena de si mesmo. Os amigos te encorajam a continuar a vida, a
conhecer outras pessoas, mas nada te interessa.
Um dia está saindo com alguém
por sair por sair, outro dia com outro e, quando percebe o primeiro sinal de
apego se assusta e foge. Por isso eu repito: não me ame. Eu não tenho mais nada
de bom que possa te dar. Não, eu não tenho medo de me apaixonar, porque sei que
isso não vai acontecer. Sou vazia, tudo que eu tinha de bom vazou com as
lágrimas infinitas. Me coração ficou em algum canto de um sobrado distante,
talvez embaixo da cama onde chorei sangue tentando entender o que acontecia. Não
me ame, por favor, porque isso me assusta e eu vou me afastar de você o máximo
que puder. Arrisco dizer que odeio o amor. Ele sempre me trouxe dor, mas a
última vez foi insuportável. Ele me tornou tão frágil que, ao me quebrar
em milhões de pedaços, não consegui os colar novamente. Sou fragmentos de uma
pessoa que um dia existiu e que sinto tanta falta como sinto da minha mãe. E
que ao tentar andar sem as pernas acabou caindo ainda mais fundo, errado e
sendo condenada no mesmo grau e, destruída de vez, aceitou a ausência de si.
Não servia mais, era um ser humano com defeito. Não me ame, eu não vou poder te
dar nada além de beijos e prazer. Não vai me ver todo dia, não vamos ao cinema,
passear no parque, deitar na grama e ver as estrelas e a lua. Use-me e jogue
fora. É pra isso que sirvo hoje, sou o kit-solidão temporário. Não fico mais com
quem me ama pra evitar que mais alguém se perca nesse breu em que vivo. Pois
não, não gosto e não desejo pra ninguém o que passei e me tornei, mas tive que
aceitar. Fico com quem não dá nada por mim, com quem não tem intenção nenhuma
de me levar a sério. E se, por acaso, eu perceber algum brilho diferente nos
olhos de algum desses “quem’s” que passam por mim, será a última vez que irá me
ver. Não quero amor, estou perdida. Não posso guiar ninguém e não enxergo o
caminho para sair daqui. Quem poderia me ajudar me afunda ainda mais. Sinto-me
doente. Tenho aversão a carinho, a “eu te amo”, “sinto sua falta”. O amor me
sufoca. Não quero! Traz-me agonia, me tira a paz. Por favor, deixe-me só. Pode
me julgar, mas não me ame! Não agora.
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