“Eu sabia
que era preciso tempo. Cada perda tem sua hora de acabar,
cada
morto seu prazo de partir, e não depende muito da vontade da gente.”
Lya Luft
Afogava-se nas constantes lágrimas pelos erros, por sentir
e, na maioria das vezes, por não sentir. Anestesiada, em meio a cobranças e tentativas
falidas de fazer dar certo, errava mais. Em um ato de desespero foi até o
porão, onde ninguém iria achá-la. Ainda sim ouvia as vozes das pessoas
preocupadas e tristes pelo seu sumiço. No dia seguinte, quando tudo estava em
silêncio, subiu até seu quarto, arrumou uma mala pequena e partiu. Não sabia ao
certo para onde, mas sentia-se aliviada a cada passo que a levava longe dali. Deixava
para trás seus sonhos profissionais, os quais, até então, não abria mão por
nada nem ninguém. Deixava seus amigos, que já não eram mais só seus, o que
amenizava a culpa da partida repentina. Deixava para trás sentimentos e desejos
que não podiam ser vividos, só traziam dor e frustração para os envolvidos.
Muitos tem pânico de armas, animais, altura, morte, ... Ela entrava em pânico ao escutar “eu te amo”. É
a mesma sensação daquele brinquedo de 100m de queda livre. Foi o que a fez
partir. É um pânico inconsciente, que ela não dominava, na verdade, ele a
domina. Enquanto ser amada é o sonho da maioria, pra ela era pesadelo. Quando
ficava ao lado de alguém e se pegava sorrindo, era assustador. Quando se
rompiam as barreiras físicas, tocando em sua mão, soava o alarme de emergência.
Sua defesa a afastava o mais depressa possível. Era sumiço na certa.
Sonhava sim em um dia conseguir viver ao lado de alguém, sem
medo, sem dores e passado. Mas não falava disso com ninguém, nem consigo mesma.
Pois isso a levava ao lugar onde isso aconteceu, com medos e dores sim, mas com
uma intensidade jamais vivida. Onde viveu o maior e mais lindo sentimento e,
consequentemente o mais dolorido e destruidor também. É estranho
como alguém pode partir o seu coração e você ainda amá-lo com todos os pedaços
partidos. Pra ela, felicidade virou a o alerta da dor. E por não
conseguir se entregar a mais ninguém, acabava magoando também, o que a
deixava pior, virando um ciclo vicioso. É o momento de
seguir em frente, colocar no bolso os planos quebrados, as mágoas e culpas, o
coração ainda partido, e estampar no rosto um falso sorriso de que tudo ficará
bem.
Partir
- v.i.
Pôr-se no caminho, ir-se embora. |Ter seu começo. | Fig. Tomar por ponto de partida. | Emanar,
provir.
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