quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Passou do Ponto


Aconteceu uma vez. Não, não faz sentido. Até que... novamente. Coincidência, certamente. Um dia e outro mais pra frente mostravam com insistência. Não! Não tem explicação!
Não consegui mais. Mas fica comigo, é só meu, de mais ninguém. Sem sucesso, reparti, com todos os receios e consequências. Ajudaram a cuidar e, muitas vezes, fortaleciam. Eu não queria, nunca quis. Insistiam pra deixar andar sozinho. Novamente não quis. A dúvida nunca existiu, com exceção em como achar a saída. Com o passar das semanas, meses, deixava escapar algo – algumas vezes por querer. Dia perdido entre os meses que me puxava de volta. E assim que ele passava tudo voltava, junto com o fermento inocente e amigável. E assim ficou em 'banho maria' por um tempo. A confiança foi depositada na panela, com a condição de nunca passar do ponto. Os igredientes selecionados com todo cuidado. O fogo alto falhou uma vez ou duas, mas não notou, pois estava tão certa e concentrada que... acabou transbordando. E nada que fizesse colocaria tudo de volta na panela. Já estava tudo espalhado pela cozinha. Ao olhar em volta não conseguia entender muito bem o que tinha acontecido, mas estava visivelmente orgulhosa pelo prato – mesmo não podendo degustá-lo. Mas minutos depois fitou a mão que estava próxima ao fogão e que nada fez além de assistir. Como um filme, foram passando cenas, conselhos e diálogos que resultaram nessa cozinha imunda. Vergonhosamente, lembrando de todo entusiasmo ao colocar a panela em cima do fogão – enquanto todos se divertiam só esperando o grand finale – o único sentimento ali era pena. E isso, confesso, é um dos piores sentimentos que se pode ter, principalmente quando se trata de si mesmo.
 Na teoria é sempre perfeito, mas na prática é preferível deixar os igredientes mofando dentro do armário a ver eles sendo jogados fora. Como que eu, tão pé no chão, deixei isso acontecer? A única conclusão que consigo chegar é que, além de nunca mais deixar de lado minha intuição na hora de temperar, devo voltar a cozinhar sozinha – sem “ajuda” ou palpites de ninguém. Agora a cozinha precisa dos meus cuidados, com licença.

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