terça-feira, 21 de maio de 2013

Eu X eu


"Eu te amo. Mesmo negando. Mesmo deixando você ir.
Mesmo não te pedindo pra ficar. Mesmo não olhando mais nos teus olhos.
Mesmo não ouvindo a tua voz. Mesmo não fazendo mais parte dos teus dias.
Mesmo estando longe, eu te amo. E amo mesmo. Mesmo não sabendo amar."
Caio Fernando Abreu


   Vida de novela: Bem estar, tranquilidade, alegria, longe de toda e qualquer preocupação. Beijos, abraços, passeios, presentes, viagens, liberdade ... uma felicidade tão desejada, tão completa, tão falsa. Me preenche até um momento, depois vem o estranho vazio questionador. Sozinha no quarto reflito sobre tudo que sou e tenho com ele. A família o idolatra e o ama mais que você. É perfeito! – visto de fora. Mas aqui dentro ainda falta algo. Falta eu mesma. Aquele 'eu' que sou quando estou contigo. Aquele 'eu' que fala a besteira mais idiota que passou pela cabeça naquele momento e você ri. Que fala do homem estranho que estava atrás na fila do banco e pediu 50 centavos "emprestado". Aquele 'eu' que conta com entusiasmo uma ideia que teve e encontra o apoio ideal pra executá-la. Aquele 'eu' que pode contar sem receios o tombo que levou no meio do ônibus lotado. "Aquele 'eu' que evita te pedir ajuda, mas não pensa duas vezes em aceitar quando você a oferece. Falta aquele 'eu' que é infinitamente amado até quando não merece. O 'eu' que morre de medo de te levar a sério e ao mesmo tempo morre de vontade e saudade de você.  Aquele que sabe que pode confiar e que tem apoio em tudo que faz, por mais absurdo que seja.  Um 'eu' que pode até se sentir atraído por outros, mas, secretamente, é em você que pensa na inquietude sobre a cama até pegar no sono. Aquele 'eu' que sem querer fala algo sem pensar que pode te magoar, mas quando viu já falou. O 'eu' que sente seu perfume no meio da multidão, fecha os olhos e, depois de um rápido suspiro, continua a andar como se nada tivesse acontecido. Um 'eu' que ridiculamente se joga em outros braços em fracassadas tentativas de mostrar alguma coisa. Aquele 'eu' que vê coisas durante o dia, lembra de você e sorri. Aquele 'eu' que pode deitar no seu colo e contar, em meio às lágrimas contidas, o lado mais negro da minha vida, a parte mais horrível do meu ser, que será ouvido com um olhar doce, compreensivo e um cafuné carinhosamente acolhedor. É desse 'eu' que insisto em fugir, consciente ou inconscientemente. Nego, sempre vou negar te amar, porque assim é mais fácil, assim nada me prende. Mesmo não tendo certeza alguma sobre nós, é desse meu 'eu' que mais sinto falta. Ironicamente, descobri que este é o meu melhor 'eu'. Contraditório, eu sei. Mas o 'nós' é muito mais frágil e complicado que aquele  meu 'eu', por isso acabo escolhendo ele, mesmo ele não existindo longe de você.
    E então fico com ele, onde crio um 'eu' que é aceito, perfeito, seguro, livre, onde eu comando tudo e todos. Lá não devo satisfações, não tenho obrigações com ninguém, não preciso me esconder. Lá sou poderosa, desejada, invencível,... vazia e superficial. Apenas mais uma, como tantas outras por aí, que vivem se enganando dia após dia, pois despejaram sua rica e singular essência no molde do "eu ideal". 


*Inspirado no último filme que assisti, mas não lembro o nome. =/

 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

(Es)colha


   
  Enquanto me distraía com os olhares que passavam por mim o sentimento ia se modificando. Subi correndo na árvore, se vê bem melhor dali, além de estar fora do alcance dos outros olhares. Observando o galho ao lado, onde ela costumava ficar, me recordei de suas palavras filosofadas com toda a sabedoria de suas cicatrizes. Embora sua frieza me arrancasse certa pena, ela não me parecia tão errada. Ela nunca arriscava largar do tronco para pegar minha mão com medo de cair. A compreensão me acompanhava enquanto, cantando, me aventurava em galhos mais altos. Arranhava-me no caminho, claro, mas que graça tem ficar lá embaixo, sentado no galho mais baixo e perto do chão? Não o perdia de vista em nenhum momento. Jogávamos ao vento palavras, confissões, indignações, memórias. Mentiras não. Sabíamos que mentir pra si mesmo é atraso, é autodestruição. Não tínhamos segredos mais um com o outro. Ela me conhecia tão bem que lia meus olhos até quando eles estavam fechados. Desci e, do galho mais baixo pulei, assustando-a.

- Não escorrega! Pula!
- Não... vou me machucar.
- Se você se machucar eu vou estar aqui embaixo pra cuidar de você.
- Eu sei, mas eu já me machuquei assim...
- Comigo?
- Não...
- Então...


    Ela hesitou por um tempo. Olhou no fundo dos meus olhos e pulou. Caiu de pé, intacta. Quem a derrubou fui eu ao pular no seu colo, gargalhando juntas. Foi sua escolha. Foi assim que vi pela última vez aquele sorriso. Cada escolha é uma semente que se planta, mas que se colhe suas consequências. Eu continuo subindo todos os dias na nossa árvore, até o último galho que consigo. E eu sei, que em algum lugar, ela está pulando, se arriscando, vivendo sem medo de se machucar. E isso é o que importa, não é? Se jogar, arriscar ao invés de ficar contando e sentindo as cicatrizes. Elas inevitavelmente estarão sempre ali, mas você não precisa – nem deve – estar junto.

quarta-feira, 27 de março de 2013

As Cores da Noite



              "Ontem à noite sonhei de corpo inteiro - acordei com teu cheiro"
Alonso Alvarez

       Seria um dia qualquer se não fosse aquela presença e uma noite vulnerável. Antes mesmo de passar pela porta iluminada já havia sentido o perfume que me guiaria durante toda noite. A embriaguez já fazia parte de mim antes mesmo de beber aqueles vários copos com líquidos coloridos. O lugar fechado favorecia os corpos estarem mais perto. A música alta me levava longe, fazendo meus pensamentos dançarem livremente. Os olhares se cruzavam com frequência, o que trouxe as conversas, as palavras ao ouvido, o discreto toque na mão, que subiu lentamente acariciando os braços, parando no rosto, que foi levemente puxado para um beijo suave. Tentava filtrar as palavras banhadas em álcool e empolgação que chegavam até mim. O colorido das luzes modelava aquela silhueta juntamente com minhas mãos. O sentir da pele arrepiada me arrepiava a alma. Entre palavras, toques e beijos, a noite respirou sensações diversas até o sol aparecer. Pela fresta da janela entrava o dia, iluminando metade de seu rosto e um sorriso deliciosamente inteiro.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Minutos




O tempo é o senhor do abstrato. Minutos que se diferenciam por uma linha tênue ou por total opostos. Nesses extremos mora a loucura, pronta pra te fazer perder novamente. Perder oportunidades, momentos, se perder. Compreender não tem ligação nenhuma com o controle do que se sente. Eu entendo os minutos do “nada mais importa”. O grito fica preso na garganta e a única coisa que penso é não querer pensar. Medos dos pensamentos mais absurdos mas que, naquele momento, te parece ser o mais fácil. Estou caindo, sempre, por mais que suba alguns metros de vez em quando. Eu sinto uma falta de ar violenta, posso parar de respirar a qualquer momento. E se o amanhã não chegar é sinal de que eu não era tão forte quando me diziam. Um minuto pode separar a vida da morte, sabia?
 Sinto-me amarrada, condenada e sem forças pra me livrar das cordas que estão tão apertadas quanto meu coração. E me encolho, me escondo de mim mesma, mas a dor não passa. Eu paro de me cortar para pintar as unhas com meu próprio sangue. Os olhos negros continuam a me observar pelo vão da porta e eu finjo não perceber. Acabaram as unhas e então pintei os lábios, os olhos, os seios, as pernas,...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Dias cinzas


Desapegar, desprender, pensar mais em si,... assim deveria ser! Não me preocupar, não sentir falta, não querer enfrentar o que for pra ver bem quem se ama. Mas quando se é privado até de saber como está, de ver, o desespero te engole e você nem vê. Eu entendo, mas ao mesmo tempo me lembro que também tenho que ficar de pé. Então vem o isolamento de pensamentos e sentimentos, pra me proteger. Mais uma vez lutando com toda a força contra mim mesma e, inevitavelmente me levando pra longe de você. Porque é enlouquecedor saber que está sofrendo e não poder chegar perto. Porque dói cada dia que passo sem saber como está. Entristece-me não poder lutar contigo. Porque me preocupa saber que essa não foi a primeira e nem a última vez.
Como diria nosso querido Poe: “Para se ser feliz até um certo ponto é preciso ter-se sofrido até esse mesmo ponto”. Então deixa doer tudo que tem pra doer. Respira, organiza, filtra, se prepara e junta do chão essa força que, sem querer, você deixou cair. Abra a janela, deixa a luz entrar. Não consigo continuar o caminho e te deixar pra trás, entende? Posso tentar me distrair com a paisagem até você se levantar e pegar a minha mão novamente. Tudo bem se não quiser mais caminhar comigo. Não, “tudo bem” também seria absurdo dizer, mas é o que tem que ser dito, não é? Pode não querer continuar o nosso caminho, mas não saio daqui enquanto não te ver de pé. Separei umas flores para perfumar sua caminhada, assim deixando-a mais agradável. Ei! Você fica tão melhor sorrindo. Se pudesse ver, não faria outra coisa. Não acreditaria se soubesse quantas alegrias dependem desse seu sorriso. E não falo só de mim. Dias ruins e dolorosos todos nós temos, acredite, não ache que é privilégio seu. Mas, felizmente, eles passam e dão lugar a dias melhores e – pra sua surpresa – a outros maravilhosamente melhores. Acalma-se e não leve nenhum pensamento em consideração nesses dias. Eles tendem a ficar distorcidos. Dificilmente eles são o que realmente quer ou que te fazem bem. Só quero que saiba que eu estarei aqui, no mesmo lugar, te esperando de braços e coração abertos, sempre. SEMPRE!