quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Dias cinzas


Desapegar, desprender, pensar mais em si,... assim deveria ser! Não me preocupar, não sentir falta, não querer enfrentar o que for pra ver bem quem se ama. Mas quando se é privado até de saber como está, de ver, o desespero te engole e você nem vê. Eu entendo, mas ao mesmo tempo me lembro que também tenho que ficar de pé. Então vem o isolamento de pensamentos e sentimentos, pra me proteger. Mais uma vez lutando com toda a força contra mim mesma e, inevitavelmente me levando pra longe de você. Porque é enlouquecedor saber que está sofrendo e não poder chegar perto. Porque dói cada dia que passo sem saber como está. Entristece-me não poder lutar contigo. Porque me preocupa saber que essa não foi a primeira e nem a última vez.
Como diria nosso querido Poe: “Para se ser feliz até um certo ponto é preciso ter-se sofrido até esse mesmo ponto”. Então deixa doer tudo que tem pra doer. Respira, organiza, filtra, se prepara e junta do chão essa força que, sem querer, você deixou cair. Abra a janela, deixa a luz entrar. Não consigo continuar o caminho e te deixar pra trás, entende? Posso tentar me distrair com a paisagem até você se levantar e pegar a minha mão novamente. Tudo bem se não quiser mais caminhar comigo. Não, “tudo bem” também seria absurdo dizer, mas é o que tem que ser dito, não é? Pode não querer continuar o nosso caminho, mas não saio daqui enquanto não te ver de pé. Separei umas flores para perfumar sua caminhada, assim deixando-a mais agradável. Ei! Você fica tão melhor sorrindo. Se pudesse ver, não faria outra coisa. Não acreditaria se soubesse quantas alegrias dependem desse seu sorriso. E não falo só de mim. Dias ruins e dolorosos todos nós temos, acredite, não ache que é privilégio seu. Mas, felizmente, eles passam e dão lugar a dias melhores e – pra sua surpresa – a outros maravilhosamente melhores. Acalma-se e não leve nenhum pensamento em consideração nesses dias. Eles tendem a ficar distorcidos. Dificilmente eles são o que realmente quer ou que te fazem bem. Só quero que saiba que eu estarei aqui, no mesmo lugar, te esperando de braços e coração abertos, sempre. SEMPRE!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O barulho que preenche o silêncio

"Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música."
                                                                                                         (Aldous Huxley)



Eu estou anestesiada de uma forma diferente hoje. De uma forma que não ficava há pelo menos 8 anos. Dormi quase me afogando em lágrimas que pareciam ácidas de tanto que doíam ao cair pelo rosto. Horas se passam na madrugada, mudo a posição, então resolvi rezar pra conseguir dormir, não aguentava mais estar acordada. Não lembro nem a hora aproximada que consegui finalmente adormecer e, pra minha tristeza, acordei – e cedo. Foi um dia silencioso. Passei a maior parte dele na varanda, enrolada no meu silêncio. O nó na garganta me impediu de comer todas as vezes que tentei. Já são 10 horas da noite e ainda não senti fome pra ter uma desculpa pra forçar ingerir algo novamente. Desisti da comida. Agora só espero ansiosamente a hora de voltar a dormir. Mas não queria que avançasse os dias no calendário. Tem como? Igual naquele filme que você dorme, acorda e é sempre o mesmo dia. Vive sempre as mesmas coisas, vê sempre as mesmas pessoas. Chato? Talvez. Mas não será surpreendido, saberá o que vai acontecer, o que vai sentir... Às vezes é isso que parece faltar, parar de pensar cada dia uma coisa, sentimentos que oscilam incansavelmente, decisões que não se decidem nunca. Se bem que mesmo na vida real tem coisas que se repetem e sempre se repetirão, independente de nós ou de nossas vontades. Assim como o silêncio. Assim como nossos passos errados, as decepções, as fugas, as esperanças, as dores, os abraços, as despedidas. Assim como sempre serão as minhas raras e breves alegrias. Feliz ano Novo!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Parque das ilusões


É como uma montanha russa que acelera o coração mesmo antes de começar a se mover. Uma hora alegria, ansiedade, outra, medo. Quando chega ao topo e vê o tanto que subiu, tudo que deixou lá embaixo e que, a qualquer momento, pode ser arremessado para lá novamente e pior, em alta velocidade. Eu estou com medo, quero descer. Mas não tem como pular daqui da onde estou, resta apenas esperar. Assim que parar poderei sair correndo, eu e meu trauma de ser lançada da felicidade quando se menos espera. Pensei que nessa fase não teria mais esses receios, mas parece que eles estão maiores do que nunca. Eu já fui mais corajosa, eu sei. Mas eu quero, eu preciso me afastar um pouco pra me lembrar de que não posso me acostumar assim com o “tão bom”. Minha memória me traz, pelos cinco sentidos, a dor do desacostumar. E é uma dor violentamente cruel, acredite. Uma semana em outra cidade já resolveria. Eu preciso desse tempo pra conseguir voltar a respirar normalmente, pra desfazer o nó na garganta que fica cada vez que escuto sobre as hipóteses do fim. E todas essas ‘vezes’ é como se seu coração parasse bruscamente, como se estivesse no elevador que cai a 90km/h, necessitando de alguns minutos de silêncio pra estabilizar. Eu havia prometido nunca mais entrar em parque algum, já tenho meus medos, traumas e receios, já sofro por antecipação sozinha. Felizmente ou não, a vida me tornou realista, independente dos meus supostos sonhos. Eu não sou criança, não sou iludida e sei – da pior maneira possível – que nada é pra sempre, não preciso que me lembrem disso o tempo todo! Quem consegue ficar confortável com alertas constantes de que o parque uma hora vai fechar com você dentro? Então que feche de uma vez, não?! Assim não existirão cenas de crianças saindo chorando porque é preciso ir embora, perdeu seu balão, ou não ganhou o prêmio que havia desejado desde a hora que entrou. Poderia ter uma barraca que aceitasse doações de corações pra dar de brinde para alguém que queira ou mereça, nem que seja por ter derrubado todas as latinhas. Outra característica do parque, principalmente quando se está dentro, não importa se é raso ou intenso, como em um carrinho bate-bate, você sempre acaba esbarrando em alguém. E, à vezes, é preciso aprender a desviar para não machucar a si mesmo nem a ninguém. Porque assim como a roda gigante e o carrossel, independente de quanto você rode, pode – e vai – acabar passando pelo menos lugar e a situação ser outra, pra não dizer inversa. E você, provavelmente, não será mais quem está em cima do cavalo e sim, o cavalo.

Não importa seus medos, seu brinquedo favorito ou se deu tempo de experimentar todos eles, quando as luzes se apagam, não adianta ficar no portão, simplesmente acabou. Luzes apagadas, parque fechado, é triste, claro que é. Porém, também não cria expectativas, ilusões, nem alimenta sonhos para serem destruídos. Parques são assim mesmo, ficam o tempo necessário depois vão para outras cidades, divertir outras pessoas. E logo vem outro, vai embora e assim vai. Não há nada que se possa fazer pra mudar este ciclo. A melhor alternativa é fazer valer a pena, cada minuto, sem pensar na hora de sair – mesmo sabendo que essa hora chegará. Apenas seja o melhor parque de diversões que alguém possa estar e assim, verá o quão gigante pode ser a sua própria felicidade.

No meio do caminho, inesperadamente, encontrou um parque? E por algum motivo acabou comprando o ingresso, certo? Tudo bem, entrar e permanecer nele são escolhas. E os brindes, em cada brinquedo e barraca que passar, são as consequências. Seja bem vindo ao Parque das Ilusões!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

"Coragem, às vezes, é desapego"

E eis que sinto que em breve nos separaremos. Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade de solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo minha solidão. Que às vezes se extasia diante de fogos de artificio. Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima que na solidão pode se tornar dor. E a dor, silêncio. Guardo seu nome em segredo.
Preciso de segredos para viver.

Clarice Lispector



Talvez pelos diversos tombos, arranhões e cicatrizes que carregamos é que criamos essas barreiras que se tornam parte de nós, por pura proteção, embora sem ter autonomia sobre elas. Todos trazem machucados de um passado distante e, às vezes, nem tão distante assim. Penso que são fases e a duração delas depende muito de cada um. Pulam-se algumas por opção – ou não. Fase de evitar até de conhecer pessoas novas, ou conhecer melhor algumas que poderiam ser algo bom.  Fugir da paquera de ontem porque a vontade de algo mais é inexistente. Fugir da boca que beijou por dias por medo da intensidade das consequências. Já fugi tanto de coisas que poderiam ser tão especiais. Hoje simplesmente cansei de fugir. Dos outros, das coisas, de mim. Hoje estou na fase de conhecer as pessoas e me doar a elas o máximo possível, talvez me apegar e, mesmo rodeada de medos, receios e cicatrizes continuar até onde não tiver mais a trilha feita por nós. Não, não estou querendo uma classificação, nem esperando nada, nem casamento, filhos, contrato assinado em cartório, ou um “para sempre”.
Foi tudo muito rápido, tudo muito nosso, em comum. Tudo muito vago, muito incerto. Ás vezes muito intenso, outras deixado de lado. Muita entrega pra pouca mão. Muito jogo pra algo que não era – e nunca foi – uma competição. Muita vontade pra inúmeras dúvidas. Vários planos pra poucas oportunidades. Muita saudade pra pouco abraço. Muita inconstância pra um constante. Muitas palavras a serem ditas, mas guardadas para alguém que saiba escutar cada uma delas – e queira escutar.
Não sei até que ponto amor e desapego podem andar lado a lado. A vontade (ainda) está inteiramente aqui. O desejo latente. O querer bem. O sorriso no rosto.  Os braços já – e sempre – abertos. Tudo aqui te esperando e você, cadê? Confesso que hoje pensei em, talvez, desistir, tendo a consciência tranquila que não mudará muita coisa pra ti, não te fará mal algum. Desistir de nós. Não porque não te amo, pelo contrário. Os dias que te tenho em meus braços são indescritíveis e os guardarei pra sempre, mas não o suficiente para suprir os dias que não está. E dói tanto cada vez que você não vem.  E, isso sim, rasga cada canto do meu peito. Hoje eu queria um colo pra colher as lágrimas, só para dar uma folga para meu travesseiro. Só dessa vez. Chorar até adormecer em um colo qualquer sem precisar falar uma palavra e poder sonhar. E que esse sonho me explicasse o motivo de tudo o que eu quero se resumir a você. Que ele me traga a sensação de estar bem, completa, mesmo não tendo absolutamente nada. Eu, que nem acreditava mais em Deus, ontem antes de dormir, rezei para que fique bem, que tenha paz no coração e leve sempre um sorriso na alma. Que caso eu não esteja no seu futuro, você tenha forças ou alguém que te cuide e proteja. Que te ajude a levantar quando tropeçar ou que se jogue no chão com você para não se sentir só nesse mar de desapegos. Desejo mesmo que consiga viver a vida com mais profundidade, afinal, na superfície você pode ter mais segurança, ver melhor, mas perde toda a beleza, as surpresas e o colorido que só o fundo do oceano tem. Mas não se preocupe comigo, apesar de tudo, adoro ficar aqui embaixo, mesmo me ralando vez ou outra nas pedras.
Eu apenas lamento. Lamento que de tanto fazer força contra me percebo ficando sem forças, cansada. De tanto fazer força para seguir as “regras” estabelecidas, de tanto cuidar pra não me jogar na piscina vazia, de tanto frear todas as vontades, palavras e sentimentos, fingir que não estou te olhando, não estou me importando, não estou pensando em você ou sentindo sua falta. De tanto fingir “não estar” tenho receio de, em breve, acreditar, ou pior, me acostumar e começar – de fato – a não estar (mais).


*Escrito em 16 de setembro de 2012